domingo, 25 de abril de 2010

É ou não é meia-atacante?

Essa já é uma discussão que vem se estendendo na comunidade juventudista. Quando a fama em torno de Zezinho surgiu, se dizia que o Juventude estava formando um grande meia-atacante. Será mesmo? E o novo aspirante a craque Hiago? É meia-atacante também?

Até a década de 90 existia a figura clássica do meia-atacante. Francescoli, Maradona, Platini, Baggio, etc etc ao redor do mundo. Pelé, Rivelino, Zico, etc para citar alguns no Brasil. Eram seres de mentalidade superior que ficavam posicionados um pouco atrás dos atacantes, mas também um pouco a frente de seus companheiro de meio-campo. Não tinham obrigação de marcação, mas participavam da organização do ataque. Daí a parte "meia". Quando o jogo vinha pela lateral do campo ou em tabelas com os atacantes, costumavam entrar na área para finalizar. Daí a parte "atacante".

Mas em 1994 dois "gênios" da retranca mundial, Parreira e Zagallo, conseguiram levar o Brasil ao título da Copa do Mundo sem usar um meia-atacante. Sacaram Raí do meio porque não sabia marcar, e colocaram Mazinho para "encerar" o meio junto com Zinho. Estavam abolidos os verdadeiros meia-atacantes do futebol nacional. Se Rivaldo jogava na Espanha mais solto que azeitona em boca de banguela, na seleção tinha que voltar acompanhando os volantes. Na copa de 2002, por exemplo, Felipão exigia que Rivaldo e Ronaldinho compusessem o meio-campo na marcação.

Ah, mas o Kaká não é meia-atacante? Claro que é. Assim como o Diego Souza, o Paulo Henrique Ganso, o Carlos Alberto, o Hugo... São meias que continuam tendo a liberdade (e muitas vezes obrigação) de se juntarem aos atacantes quando o time pressiona o adversário. Mas, no futebol atual, também são jogadores que devem acompanhar um volante ou um lateral adversário até a própria área se for necessário. Hoje, meia que não marca é só atacante. Ronaldinho e Robinho, por exemplo.

Mas afinal o Zezinho é ou não é meia-atacante? Ele pensa que é, e muita gente também. Naquela partida contra a Portuguesa em que marcou seu primeiro gol como profissional, por exemplo, ele foi escalado nessa função. Estava um pouco atrás dos atacante e um pouco a frente dos outros 4 jogadores que compunham o meio-campo. Foi assim também em outras partidas. Isso lhe obrigava a voltar marcando os volantes adversários e acabava com ele. O futebol do Zezinho durava no máximo 60 minutos. Corria a toa, voltava para marcar sem saber. Não conseguia roubar a bola e fazia faltas bobas. Cansava com seus 17 anos mais rápido que os trintões, provavelmente por preguiça sua nos treinamentos físicos. Por isso que Zezinho é atacante, e não pode ser meia-atacante.

O Hiago então nunca vai ser meia-atacante? Em 2002 eu tive uma discussão com o Ricardo Gomes. Ele escalou o Dionathan em um treino como volante. Depois do treino lhe chamei atenção que aquele garoto era um meia, que não era e nem nunca seria uma volante. Perdi aquela aposta, e feio! Em todas partidas que assisti do Hiago até hoje, seja no sub-18 ou profissionais, ele sempre atuou como atacante pelo lado esquerdo. Notem que não ponta-esquerda, já que se movimenta sempre em direção ao centro da área. Mas ele não é meia-atacante porque nunca voltou para marcar. Mas não vou dizer que nunca será, porque torço para que alguém lhe ensine a marcar o quanto antes. Ele já tem boa noção de fechar espaços e, vindo de trás, pode ser que renda ainda mais.

Mas como esses garotos podem ser atacantes se têm dificuldades para fazer gol? Bom, isso é um problema crônico das categorias de base do Juventude. Os meninos não ganham corpo suficiente e nem mentalidade de marcação para poderem ser meias. Mas também não aprendem a finalizar devidamente como um atacante. E isso não se restringe aos casos mais recentes, como o Diego Rosa e os já citados Zezinho e Hiago. Também se restringe a casos anteriores, como Michel e Bruno - que depois de "velhos" aprenderam a marcar e puderam sim ser meia-atacantes. E aí podemos incluir até o caso do Ivo, que passou muito rapidamente pela nossa base.

Eu não acompanho o dia-a-dia das categorias de base do Juventude, mas já passou da hora de corrigir as falhas de fundamentos de nossos jogadores: atacante tem que saber finalizar, meia marcar, lateral cruzar, etc.

8 comentários:

Rudi disse...

Dá gosto de ler esse blog!
Impressionante a capacidade de entendimento que se passa nesses textos...
Parabéns e dá-lhe Papo!

Unknown disse...

Quando eu for presidente, vou convidar o Pablo para ser meu meia-atacante, aliás, meu vice de futebol.

Viccari disse...

É, pra meia-atacante ele não serve. Não sabe marcar nem concluir. Fora a corneta, belo texto.

Guilherme Molin disse...

enquanto os adversários marcam com 9 ou 10 jogadores, jogamos o gauchão todo marcando com 7 ou 8, não esta ai o iníco do problema? acaba sobrecarregando os volantes e a zaga, que já não são grandes coisas.

Fernando Frizzo disse...

Também acho Gui.. Aí e na falta de capacidade de segurar a bola no ataque... A bola vai, a zaga não tem nem tempo de sair e já tá correndo atrás de novo.

Doug disse...

Melhor texto do ano até agora. Parabens.
Este tambem é o melhor blog do Juventude hoje.
Já ia esquecendo, minha opinião: Time bom é time que sabe se defender antes de tudo.

Tiago Dal Zotto disse...

Mais um belo texto da sessão "Futebol for Dummies" (categoria na qual eu me incluo).

Parabéns a todos!

Abimael disse...

Talvez a resposta para o questionamento do blog esteja no problema que eu tenho visto no Juventude: amadorismo.
Quem no clube cobra dos jogadores (e das categorais de base) os treinamentos? Qual jogador bate mil escanteios por dia? Mil faltas por dia? Mil cruzamentos por dia? A meu ver isso não é mais que a obrigação. Se for muito, reduz-se para 500, então, mas isso é algo imprescindível. Como é o profissionalismo do Juventude? Fica a pergunta (até uma sugestão de post)... Abimael